Posso estar completamente errado, mas acredito que, quando desistimos de parte de nossos sonhos, da mesma forma como apelidamos nossas ex-namoradas com termos pejorativos que, no entanto, transmitem aquele sentimento trágico do momento, são duas faces da mesma moeda que compõem não o caráter do homem, mas o amadurecimento enquanto um indivíduo quebrado, tentando se reconstruir apesar dos flagelos anteriormente sofridos. Pois é, a vida tem dessas. E quem diria, quem diria que eu, um indivíduo que foquei minha vida em ser tranquilo, não ofender o próximo e aproveitar os curtos momentos de felicidade e plenitude da forma mais completa possível, passaria por este momento que, em pleno 2024, chamam de desenvolvimento de personagem ou aprofundamento na história do vilão. Quem diria, quem diria que esse sentimento, apesar de complexo, é verdadeiro, único e verdadeiro, um sentimento quase inenarrável de olhar para trás, ver o caminho que percorremos até aquele momento e perceber que, apesar da jornada prosseguir, muito daquilo que ficou para trás ainda nos fere, ainda nos perturba, ainda faz com que nossos sonhos se transformem em pesadelos. É trágico, é complexo, mas é a vida que temos. Eu, sinceramente, pensei que, sendo responsável, correto e o mais certinho que eu conseguisse, não encontraria a felicidade, mas me colocaria em um lugar de paz, como alguém ético e correto. Eu estava errado.
Às vezes, eu me pego, sim, amaldiçoando 2019. E tais maldições ecoaram em minha vida, em pleno 2022, quando eu pensava que paz e calma eram tudo aquilo que estaria ao meu alcance. Mesmo hoje, no longínquo 2024, eu me pego, muitas vezes, olhando para trás e tentando calcular, da melhor forma que consigo, o que eu poderia ter feito diferente, o que eu poderia ter evitado, as pessoas que eu não deveria ter conhecido e os estranhos que eu deveria ter abraçado. É chato, complexo e, até certo ponto, inimaginável. Afinal de contas, como mudar o passado ou compreender os fatos que nos abraçarão no futuro? Pequenas coisas, ecos de nada, flutuando, boiando, existindo, contemplando, modificando e, finalmente, tornando-se. Em nossa história. Ecos no espaço que transformam o tempo e nos tornam, contra nossa vontade, indivíduos. Ora, melhores e, muitas vezes, piores. Apesar de piores, muitas vezes tentando ser melhores. Causando dor e sofrimento por onde quer que passamos. Doloroso, porém humano, como bem somos.
Sabe, eu tenho muita esperança de me tornar alguém financeiramente, monetariamente rico, para assim, finalmente, poder viver sem medo do amanhã. É complicado. Viver de pequenos negócios, grandes bicos, fazendo tudo errado enquanto almejo o certo. Vivendo uma vida que está à minha disposição, porém que, infelizmente, não é a que eu planejei, sonhei ou idealizei. Até onde sabemos, a vista é uma coisa que ganhamos com a vida. E vida é uma coisa que só temos uma. Então, os pontos de vista que temos da vida são cunhados ainda enquanto somos meras crianças inocentes, com expectativas de adultos. Saudades da adolescência, quando eu ainda podia me tornar algo que não eu. Sempre que paro e penso, e olho para o passado, vejo pessoas, vejo lugares e vejo ecos daquilo que poderia ter sido. Memórias cruéis, memórias felizes e memórias que, infelizmente, nunca aconteceram. É triste, é solitário, mas, ainda assim, sou eu e parte de quem sou. Pensamentos jogados ao vento, infelizmente dificilmente ouvidos. Porém, por mim, sentidos. E isso, para mim, já basta. Afinal de contas, é o que temos para hoje. É meio complicado. Você se relaciona com alguém e pensa que esse alguém é o certo, e descobre que não é. E bola pra frente. E bola pra frente. E bola pra frente. É tanta bola pra frente que o passado acaba se tornando um rascunho daquilo que pretendia ser e nunca foi. Não uma expectativa, mas um rascunho rabiscado. É como olhar o passado longínquo e tentar entender quem eram as pessoas que foram antes de nos tornarmos quem somos. Cinco mil, dez mil, vinte mil, cinquenta mil anos atrás. Sonhos perdidos na história, expectativas quebradas e uma sobrevivência desenfreada que nos alcança até hoje. E, no final do dia, nem sabemos quais eram aqueles sonhos perdidos. Recentemente, cientistas da física quântica se aproximam de uma possível resposta para a pergunta se somos ou não parte de uma simulação. Mas o simples fato de vivermos e precisarmos do contato alheio já é, de certa forma, uma resposta. Não? Afinal de contas, simulamos quem somos e quem queríamos ser para, talvez, emularmos na realidade tudo aquilo que nos tornamos por não conseguirmos ser quem gostaríamos de ter nos tornado. É chato, oblíquo e complexo.
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